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SNS tem de ajustar a tabela de análises às necessidades

SNS tem de ajustar a tabela de análises às necessidades

Prevenir em vez de apenas tratar pouparia muito ao Estado, que deve estar atento aos novos biomarcadores. Se forem excluídos, indústria deixará de investir.

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A importância dos laboratórios na prevenção das doenças e os limites financeiros que um Serviço Nacional de Saúde (SNS) como o português ainda coloca a esta abordagem estiveram no centro do debate no podcast mensal da APIFARMA. Nesta edição de junho de “Pela Sua Saúde”, alertou-se ainda para os desafios que se colocam à indústria com o novo regulamento europeu para os dispositivos médicos.

 

A conversa foi moderada por Paulo Sequeira Dias, da APIFARMA, com a participação do imunoalergologista Pedro da Mata e do farmacêutico Rui Pinto, professor da Faculdade de Farmácia e membro da direção da Ordem dos Farmacêuticos. Os dois especialistas, sublinharam que os laboratórios são “uma peça fundamental não só no diagnóstico da doença”, mas também na confirmação da história clínica, na monitorização dos sintomas e no acompanhamento da terapêutica.

 

Contudo, alertou Rui Pinto, “o nosso país é bastante limitado em recursos. Há evidência de que se consegue uma melhor gestão do que é o sistema nacional de um país se trabalharmos na prevenção, no acompanhamento do estado de saúde, em vez de intervirmos no diagnóstico e no tratamento, que tem custos mais acrescidos.”

 

Para o professor universitário e especialista em análises clínicas, a tabela atual de análises convencionadas no SNS não está ajustada ao que é “a necessidade e a realidade”: algumas, hoje, “já não fariam sentido e outras com extrema utilidade clínica, cuja evidência mais do que está comprovada” não são prescritas porque “o doente que não tem capacidade para ir ao laboratório fazer essa análise”, que o Estado não comparticipa.

O imunoalergologista Pedro da Mata deu o exemplo do estudo da microbiota: “É um estudo caro”, mas que permitiria um diagnóstico e um tratamento mais preciso. “Só com uma comparticipação havia muito mais qualidade de saúde e poupava-se muito dinheiro ao SNS”, afirmou.

 

A medicina preventiva e personalizada ganhará, aliás, relevância no futuro, assumiram estes dois especialistas. “Mas não vai ser já. Vai demorar mais tempo”, previu Pedro da Mata. “Até chegarmos a esse ponto e na realidade portuguesa, vai acontecer o que está a acontecer hoje: clínicos que vão continuar a viver do hemograma, da glicose e urina tipo 2. E aqueles que podem ter a sorte de conseguir tratar os doentes juntamento com o laboratório”, afirmou.

 

Este é o “valor acrescentado dos meios complementares de diagnóstico, em concreto das análises clínicas”, referiu Rui Pinto: “Temos de estar em diálogo permanente para quando nos é solicitada determinada análise, o laboratório poder dialogar com o médico. E em conjunto, os dois orientarem-se, porque o foco de ambos é o melhor acompanhamento possível do doente.”

 

Neste momento, há “um grande desafio” para a indústria dos dispositivos médicos de diagnóstico in vitro, explicou Rui Pinto. “Sobretudo no espaço europeu, com a saída do novo regulamento que exige registo e regulação dos dispositivos médicos com marca CE.”

 

Este facto está a levar a cálculos de “custo-risco” quanto ao desenvolvimento de tecnologia para determinados biomarcadores. A pergunta que a indústria está a colocar, segundo este responsável da Ordem dos Farmacêuticos, é se o investimento de milhões de euros terá depois retorno: “Será que os estados-membro vão olhar para este marcador como uma mais-valia, algo que é necessário os médicos prescreverem e os laboratórios fazerem?” Se isto não acontecer, “o fabricante deixa de comercializar ou produzir” e então este regulamento pode tornar-se “limitativo para o desenvolvimento de novos biomarcadores”.

 

Ouça os podcasts na íntegra aqui.